terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Descobrimos o gaúcho social

Entrevista publicada no Extra Classe em setembro de 1999, intitulada "Descobrimos o gaúcho social" onde o jornalista Cesár Fraga apresenta  duas visões diferentes do gaúcho:  João Carlos D'Avila Paixão Côrtes, e Vítor Ramil. Nas entrevistas, cada um deles fala do seu trabalho, de sua trajetória e, principalmente, da busca da identidade deste gaúcho

Abaixo, segue parte da entrevista de Paixão Côrtes.

 EC - Dá para dizer que o senhor e o Barbosa Lessa são os inventores do tradicionalismo?



Não, nós não temos a pretensão disso. Antes de nós já havia registros de estudiosos que, inclusive, serviram como base para a nossa pesquisa. Mas tratava-se de historiadores e escritores que falavam dos feitos do gaúcho mítico, do guerreiro, do centauro dos pampas. Só o que existia era a história farroupilha e a história das revoluções. O que restou foi o registro oral de memória, de que nós saímos à cata. Na verdade, eu diria que nós iniciamos um novo ciclo.
EC - E como vocês faziam esta pesquisa? Qual sistemática utilizavam?
Nós arrolávamos todas as informações que conseguíamos. Depois disso selecionávamos e registrávamos tudo, de forma que as cantigas e danças pudessem ser executadas a partir desse registro. Dos depoimentos eram registradas as partituras e os passos de dança. Assim, não nos contentávamos com o registro literário. Queríamos garantir que a partir daquele material se pudesse cantar e dançar aquelas peças. Buscávamos a fonte, selecionávamos o material, registrávamos e transmitíamos adiante. Só isso.

Paixão e Belizário -  Início da década de 50.
 Arquivo Pessoal Paixão Côrtes.

EC - Dependia-se muito da memória das pessoas. Qual era o procedimento?
Eu e o Lessa recebíamos a informação de que em determinada cidade havia uma pessoa, geralmente já idosa, que sabia cantar e dançar determinado ritmo. Pegávamos as malas e íamos procurar a tal pessoa. Dependíamos exclusivamente da memória delas. Muitas vezes não tínhamos qualquer referência. Então, já perguntávamos logo pelos habitantes mais idosos. A forma do registro era simples. Perguntávamos: o senhor, ou a senhora, poderia cantar e dançar a tal música? Registrávamos tudo por desenhos e partituras. Isso só ficou mais fácil depois que conseguimos uma máquina de gravar emprestada.
EC - Qual era a reação?

Era de espanto (risos). Todos se perguntavam por que jovens como nós viviam procurando por velhos. Outros, muito desconfiados, achavam que estávamos atrás de algum tesouro escondido (mais risos). Era preciso conquistar a confiança das pessoas para conseguir que elas, geralmente entre os 60 e os 80 anos, cantassem e sapateassem em uma época de plena proliferação da cultura norte- americana.



  Pode ser lida na sua totalidade no Extra Classe - SINPRO-RS no acesso abaixo:




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