segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Patrono da Feira do Livro Infantil do Hospital São Lucas da PUC-RS

Foto Ana Fraga

Com a ideia de possibilitar aos pequenos pacientes o contato com o mundo da literatura, foi realizado no dia 22 de novembro a 7ª edição da Feira do Livro Infantil do Hospital São Lucas da PUCRS.

Em comum com a Feira do Livro da Capital, a Feira do HSL tem o seu patrono, o folclorista Paixão Côrtes, que participou da abertura. Também estiveram presente o escritor Luiz Coronel e o futuro Secretário de Cultura do RS Luiz Antônio Assis Brasil. Após a cerimônia, houve a distribuição de livros aos pequenos pacientes atendidos no Hospital.

A programação continuou com sessões de autógrafos com os escritores Celso Sisto e Celso Gutfreind, além da Narração Encenada, com os bolsistas do "Projeto Literatura Infantil e Medicina Pediátrica: Uma Aproximação de Integração Humana", da Faculdade de Letras da PUCRS


 
Foto Ana Fraga


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Entrevista "Clube do Aposentado"

(Foto Carlos Paixão Côrtes - 2006)

O objetivo era elevar a cultura gaúcha?
Não existe, no meu modo de ver, cultura superior ou inferior, como muitas vezes se dizia. Cada um tem seu segmento cultural e é preciso que se preserve e se respeite. Acho importante sedimentar a cultura popular rio-grandense, valorizar respeitosamente, como qualquer cultura de outro país. Temos que preservar a identidade da terra. Eu percebi isso quando sai do RS em 1958 e fiquei cinco  meses dançando, cantando e sapateando nos grandes espetáculos na Europa, de bota, bombacha, lenço do pescoço, chapéu e barbicacho. A arte de transmitir, de identificar, é própria das pessoas que têm cultura. Querem estabelecer o paralelo entre o seu mundo e o do outro.

Entrevista para o Jornal "Clube do Aposentado" da Panvel, com o título "Guardião da Cultura Gauchesca" em setembro de 2006.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O Construtor da Memória


       Os CTGs se espalharam pelo mundo, todos nós sabemos. Há CTG nos confins da floresta amazônica, há CTG ponteando os planaltos descampados de Centro-Oeste do Brasil. Há CTG nas proximidades dos lugares mais sofisticados e exclusivos de Beverly Hills, Califórnia. Há CTG inclusive em Tóquio, no lado oposto da Terra. Nossos olhos e ouvidos se acostumaram aos xiripás, aos panhuelos, às guaiacas, aos facões e alpargatas e ao som familiar e inconfundível que vem das vozes e canções galponeiras. Convivemos com todas essas coisas com tranqüila intimidade, como parte indispensável da vida e da paisagem.

      No entanto, todos esses valores, todo esse orgulho nativo, toda essa chama, esse sentimento crioulo que nos irmana e que nos faz sentir mais felizes com nossa essência e com nossa identidade poderia não existir. Todo esse painel multicolorido de vestidos prendados, bombachas, anáguas campeiras e barbicachos estaria perdido nos arquivos semi-mortos e sepultos do esquecimento não fora o voluntarismo investigatório irrefreável de um pequeno e seleto grupo de folcloristas do Rio Grande do Sul. Graças a essa plêiade e a pesquisa minuciosa e única por eles realizada, graças a toda uma lapidação criteriosa e diligente de fatos, eventos, imagens e cores através do tempo, tornou-se possível reconstruir nosso comportamento como grupo humano, tornou-se possível visualizar nossso eu coletivo, nosso modo de ser profundo: o ser gaúcho.

        Entre esses notáveis construtores da nossa memória popular, há um nome ímpar, que se evidencia e se identifica logo ao ser pronunciado: Paixão Côrtes. A ele devemos muito, talvez nem saibamos quanto. Esta publicação é, na verdade, uma das formas que encontramos de reconhecer seu intenso labor de pesquisa e de dar, às novas gerações, a oportunidade de conhecer seus estudos folclóricos admiráveis. Como justa e necessária homenagem a um grande legado.

       Eis a origem de tudo. É Paixão Côrtes. E mais não é preciso dizer.
 
José Fogaça
Prefeito Municipal de Porto Alegre/RS/Brasil em 2006

(Texto do Convite para o lançamento dos CDs ”Paixão Cortes” e “Do Folk aos Novos Rumos”, em abril de 2006) 



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Paixão Côrtes: ao final da jornada, uma guaiaca cheia de histórias

Entre contadores de histórias e leitores, desponta Paixão Côrtes, personagem inesquecível da Feira

Ele diz não ser escritor, mas escrevinhador. Sem dúvida, é um contador de histórias. Escrevinhando ou falando, Paixão Côrtes terá um punhado de causos para passar adiante depois desta 56ª Feira do Livro que o saudou como patrono. Em mais de uma ocasião na última quinzena, o folclorista foi tomado pela recepção que o público armava a sua passagem: salvas de palmas, sem ensaio, sem motivo.

Ao ser convidado para uma entrevista no estande de uma emissora de rádio e TV, improvisou um dueto com Luiz Carlos Borges. Estava ali para falar, não para cantar, mas não refugou a oferta:
— Ele abriu a gaita e cantei o Hino ao Rio Grande.

Não poderia imaginar o que viria a seguir.
— As pessoas choravam, beijavam minha mão, puxavam meu lenço. Acho até que quebraram umas coisas — recorda.

Lembranças de familiares, de coisas passadas — ele arrisca algumas interpretações para os ânimos tão exaltados.
— Deve ser por emoção, eu não estou pagando nada — diverte-se.

Mas não é preciso dedilhar um instrumento ou impostar a voz para provocar lágrimas. Uma senhora chorava ontem à tarde, sem trilha sonora, emocionada na presença de João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, gaúcho de Santana do Livramento. Circulando pela praça, ele não dá meia dúzia de passos sem ser interrompido para uma prosa rápida. Amante da cultura e das tradições do Estado, não tem hora quando se põe a falar sobre o tema que norteou sua vida.

Apesar dos 83 anos, abraçou com dedicação todos os compromissos do patronato e se esforçou para bem receber os visitantes. Deixou o chimarrão em casa, o hábito não casa com a algaravia do centro da Capital:

— O mate é um estado de espírito, não é uma bebida qualquer como Coca-cola. Tomo de manhã cedo, refletindo — esclarece.

Na segunda-feira, única ocasião em que apareceu pilchado, pediu um refresco — para não forçar demais um braço meio dolorido, a filha o ajudou a distribuir dedicatórias.

— Tenho 50 anos a menos e estou cansado — diz o relações públicas Ricardo Rocha, designado pela Câmara Rio-grandense do Livro para acompanhar o patrono.

Paixão circula tirando som da matraca, objeto de madeira usado no Interior para anunciar festas
— Que invencionice é essa? — questionam citadinos.
— Invencionice nenhuma! — replica o patrono, emendando uma empolgada explicação.

Os adultos apresentam às crianças o homem que serviu de modelo ao artista plástico Antônio Caringi para construir um dos símbolos mais marcantes de Porto Alegre:
— Olha, filho, aquele ali é o Laçador.

O patrono está faceiro: trouxe o tradicionalismo para a praça. Perdeu as contas de quantas vezes fez pose para fotos – mais de mil, estima. Mas com uma ressalva:
— Não sou de palco, não sou de microfone, não sou de holofote. Sou de campo.

Reportagem de Larissa Roso, com foto de Diego Vara,  publicada em Zero Hora em 13/11/2010





Ilustração de O Globo (2000) publicada por Luis Peazê , escritor e jornalista,

AUDIOSLIDE: Paixão Côrtes em imagens

Quando da escolha de Paixão Côrtes para Patrono da 56 Feira do Livro de Porto Alegre, ele concedeu uma entrevista falando da matraca.

O ClicRBS utilizou o audio da entrevista e fotos para fazer um Audioslide que poderá ser assistido no acesso abaixo.






Encerramento da 56 Feira do Livro de Porto Alegre, ao som do sino, da matraca e da Valsa da Despedida (15/11/10)

Nos dias de Feira, não foi estranho ver o patrono assediado pelo público com dúvidas sobre o chimarrão e as tradições gaúchas. Mas, no encerramento, a tradicional caminhada entre as barracas foi finalizada ao som da Valsa de Despedida. Rosas foram distribuídas para quem estava no local.

Fragmento de texto de Luisa Piffero publicado em 16/11/2010no jornal Zero Hora, sob o título "Último dia da 56ª Feira do Livro ganhou ares tradicionalistas"












Fotos Carlos Paixão Côrtes


Tradicionalismo Encontro de Gerações

Após o "Mate de Cumadre", o Patrono participou com  Ernesto Fagundes, Airton dos Anjos, Jader Leal e João Bosco Ayala de um momento de prosa e música no "Tradicionalismo: encontro de gerações".

— Estamos cultuando aspectos da cultura gaúcha! — afirmou Paixão Côrtes em tom decidido.

Esta foi o último compromisso da intensa agenda do Patrono da 56 Feira do Livro antes do encerramento.




terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mate de Cumadre em Cuia de Porcelana

No ultimo entardecer da Feira do Livro, foi reconstituido o antigo hábito do Mate de Cumadre o qual era tomado em cuia de porcelana. Paixão Côrtes troxe sua coleção de cuias nas quais foram preparados diversos tipos de mate que eram apreciados pela mulher gaúcha de antigamente. Enriquecido pelas informações do folclorista, as Cumadres do CTG Brasão do Rio Grande de Canoas, devidamente caracterizadas,  reconstitiuram as reuniões intimas nas quais eram tomado o mate doce. O público foi convidado a sorver uma cuia do mate doce das Cumadres.













Fotos Carlos Paixão Côrtes

Capas de Livros de Paixão Côrtes

Durante a 56 Feira do Livro de Porto Alegre, no Centro Cultural CEEE Erico Veríssimo permaneceu, para visitação pública. uma exposição de capas de algumas das publicações de Paixão Côrtes.







Fotos de Carlos Paixão Côrtes


Matraqueando na Feira

O Patrono Paixão Côrtes, anunciando-se com sua matraca, fez questão de deixar em todas as Barracas de Livros uma mensagem de agradecimento. As fotos abaixo registram sua caminhada acompanhada de Marina, sua esposa, e de Ricardo Rocha, seu "anjo".







Fotos Carlos Paixão Côrtes

sábado, 13 de novembro de 2010

Entrevista com o Patrono da Feira do Livro



Qual é a sensação de ser mais uma vez homenageado, agora como patrono da Feira do Livro?

A distinção que me fazem os participantes da Câmara do Livro e os demais livreiros e editoras é muito grande para quem não se considera um escritor, e sim um escrevinhador, ou seja, eu vou à fonte de origem da pesquisa, junto ao povo, registro, fotografo, analiso, escrevo, publico e devolvo ao povo o que é da sua sapiência, da sua vivência anterior ou atual. Na feira, pela primeira vez me parece, estão vindo essas expressões espontâneas de conjunto, de vivenciar os dias atuais que não são coisas do passado para serem cultuadas, nem são símbolos remotos, são vivencias das comunidades atuais. E como o livro não tem idade, nem pelo ou cor, acho que a Feira do Livro é o momento de reencontro com o povo através das próprias manifestações espontâneas, ao lado das erudições dos livros internacionais, dos pensadores dos mais variados setores humanos e tudo isso faz parte de uma única manifestação, que é cultura. Não tem superior nem inferior, não tem mais bonita nem menos bonita, não tem mais rica nem mais pobre, é cultura do povo.



Fragmento da entrevista a Anselmo Cunha dos Santos, com fotos de Carlos Macedo,  a qual poderá ser lida na integra no acesso abaixo



Patrono da 56ª Feira do Livro Covida a todos para o "Mate de Comadre" dia 15 de outubro de 2010 às 18:30

15 de novembro: Mate de Comadre em Cuia de Porcelana

                             Foto Ana Fraga



No último dia da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre - 15 de novembro, acontece o evento "Mate de Comadre em Cuia de Porcelana", às 18h30, no Deck dos Autógrafos, no Cais do Porto. Nele, o Patrono Paixão Côrtes falará sobre a tradição gauchesca de tomar o mate doce em cuia de porcelana.
O público está convidado a participar e levar seu mate para a roda.


MATE DE COMADRE EM CUIA DE PORCELANA

Foto Carlos Paixão Côrtes

MATE DOCE
Em nosso livro “O Gaúcho – Danças, Trajes e Artesanato”, publicado em 1978, nos atendo às peças artesanais usado no meio social rural gauchesco de outrora, (fins do século XIX primórdios de XX) referentes a certos tipos de cabaça na qual nossas prendas e avoengas serviam uma infusão de “ilex paraguaiense” com água quente, através de uma bomba típica (canudo) de metal, semelhantemente ao mate paraguaio, porém este servido com água fria e denominado de terêrê.
Da nossa matéria editada extraímos o seguinte texto:
“A porcelana ligada à tradição gauchesca tem nas cuias para mate doce, tão ao gosto das mulheres, as peças mais representativas. Assim como muitos objetos de metal dos campeiros e peças de uso pessoal (ponchos, palas), as cuias de porcelana eram produções européias que vinham destinadas aos mercados consumidores das áreas sul-rio-grandenses, argentina e uruguaia, da mesma forma como acontecia com relação aos tecidos dos mais diversos. Isto ocorria em decorrência da estrutura comercial existente anteriormente, nos países sul-americanos e em razão de ausência do espírito industrial fabril de nossa gente nos primórdios de sua formação sócio-cultural, como já fizemos referência ao longo desta obra.
Estas peças, as cuias de porcelana, que hoje ocupam prateleiras de colecionadores e vitrinas de museus, variam de formas e tamanho, embora não excedam a dezessete centímetros de comprimento, com uma capacidade de 80 gramas para erva e com uma boca em forma de três centímetros de diâmetro.
As mais singelas eram estreitas (na sua largura) e com uma alça lembrando uma pequena xícara. As mais requintadas apresentavam um pé torneado e um elemento figurativo mitológico como, por exemplo, um anjo de asas semi-abertas ou então outros símbolos artísticos, geralmente humanos, sustentando o bojo do recipiente, destinado a receber a erva-mate. Aliás, frequentemente, este adorno continha flores em alto relevo, delicadas grinaldas, bordos dourados, etc. Em diversas cuias de porcelana liam-se inscrições como: amizade, saúde, amor, felicidade, etc. que pela sua grafia nos leva a acreditar serem, predominantemente outrora fabricadas na França.

Afora estas cuias antigas, de maior significado utilitário e decorativo, a porcelana atual fabricada no Rio Grande do Sul, com fins mais diversificados, resulta de uma mistura de quartzo de feldspato, barro e energia. Da pasta à modelagem, do cozimento à função dos objetos, do emprego de tintas à terminação, ela está fundamentada na cultura teuto-rio-grandense atual, sem maior vínculo estético, ou artístico à arte folclórica gauchesca propriamente dita”.
Para tais cuias pretéritas, exigiam-se bombas relativamente pequenas, proporcionais à peça com chupeta de ouro, lisas, com discretos anéis ou torneadas, na extensão da própria prata ou metal branco. Nas mais requintadas, via-se ao longo do comprimento ajustado à haste da própria bomba figuras de flores, pássaros fixos ao comprido ou inclusive as iniciais da dona da casa, próprio ao manuseio delicado dos dedos femininos.
Sabe-se também pela orabilidade que o mate traduzia simbolicamente uma mensagem poética muda e por vezes amorosa relacionada ao namoro entre os jovens solteiros ou mesmo na roda das comadres no horário da meia-tarde em diante. Alguns mates se faziam acompanhar de jujos, isto é, ervas medicinais.
Foto Carlos Paixão Côrtes

Assim falavam provincianas do Rio Grande:
Mate com mel – “quero casar contigo”
Mate com açúcar queimado – simpatia
Mate com canela – “só penso em ti”
Mate com açúcar – amizade
Mate frio – desprezo
Mate com sal – “não apareças mais aqui”
Mate com cascas de laranja – “vem buscar-me!”
Mate muito amargo – “chegaste tarde, já tenho um amor”
Mate lavado – “vá tomar mate noutra casa!”
Mate servido com água quente pela bomba – “Desapareça da minha frente”
Mate com leite ou funcho – para amamentar
Mate com marcela – colhida na sexta-feira santa antes do alvorecer é mate santificado, bom para tudo
Mate com quebra-pedra – é bom para as urinas
Mas o mate poderia proporcionar um momento desastroso a um afoito gaúcho conquistador, se o pai da nossa cortejada, considerasse o ato, “um namoro contrariado dos antigamente”.
Assim, o “taita” com habilidade e sutileza botava no mate do pretendido à mão se sua filha, uma folhinha de umbu.
É disenteria imediata!  
O gaúcho, então garboso, deixava um rastro ridículo rumo ao mato...

Foto Ana Fraga
A 56ª Feira do Livro que se realiza em Porto Alegre trouxe uma edição de Rosina Duarte com retalhos de memória sob o título “Contos sem Fada”.
A autora no capítulo “mate de mulher” nos brinda com o seguinte texto:

MATE
Adoçado com açúcar ou mel, perfumado com canela e jujos (ervas), ou acrescido de leite, o mate das mulheres era um primor de criatividade e uma subversão declarada ao chimarrão (amargo) dos homens. Nem os tradicionais avios eram respeitados, pois a cuia era comumente substituída por canecas de louça.
A hora do mate, para as mulheres, era o meio da tarde, quando as lides da casa aliviavam, os filhos estavam na escola ou brincando na rua, e os mari¬dos, trabalhando. Elas se juntavam para conversar, ouvir novelas, fazer traba¬lhos manuais, trocar receitas e atualizar as fofocas.
O mate doce nunca vinha só. As mulheres costumavam sentar em roda de uma mesa onde eram servidas, pelo menos, galletas e rapadura de palha. Cucas, broas, bolos e doces caseiros de várias naturezas eram o orgulho das comadres que, ao chegarem de visita, costumavam obsequiar a dona da casa com “‘alguma coisinha boa”.
Foto J. C. Paixão Côrtes



Assim: Verde, Amargo, Mate Amargo, Mate Chimarrão ou somente Chimarrão é bebida típica especialmente servida entre os homens do Rio Grande.
Mate doce, Mate de comadre é bebida servida somente às mulheres gaúchas.

Foto Carlos Paixão Côrtes

Texto de: João Carlos D´Ávila Paixão Cortês