quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Versos dos diversos momentos do ritual do Terno de Reis

Chegada

Agora mesmo chegamos
Na beira do seu terreiro
Para tocar e cantar
Licença peço primeiro

Meu senhor, dono da casa
Acordai, se estais dormindo
Venha ver a estrela D'alva
Que bonita está saindo


Entrada

Porta aberta, luz acesa
Sinal de muita alegria
Entra eu, entra meu Terno
Entra toda a companhia

Vimos a porta se abrir
E a luz está brilhando
Queremos pedir licença
Pro meu Terno entrar cantando

Dentro da casa

 

Senhora dona da casa
E seus filhinhos também
Viemos lhe cantar os reses
E trazer os parabéns

Quando entrei nesta sala
Toda a casa floresceu
Simboliza a manjedoura
Lugar que Jesus nasceu

Agradecimento


Eu agradeço o vinho
que vós nos ofertou
Eis o sangue divino
Que Jesus abençoou

Pelo Reis que vós deste
Todo de tão boa mente
Nossa Senhora lhe ajude
Os anjos que lhe acrescente

Despedidas
Meu senhor dono da casa
A todos peço perdão
Para ir a outra parte
Decantar a adoração

Despedir do dono da casa
E todos os filhos que tem
Nosso Terno vai embora
Mas volta no ano que vem 



 Foto Paixão Côrtes - Arquivo de pesquisa

Quadrinhas recolhidas por Paixão Côrtes e publicada no livro "Natal Gaúcho e os Santos Reses".


domingo, 26 de dezembro de 2010

Mensagem do Ciclo Natalino


Foto Carlos Paixão Côrtes

QUERIDOS AMIGOS,
SEGUIDORES E VISITANTES
 


Vem comigo Noite Santa adentro, e,
como sinuelo de fim de ano,
sigamos a luz da estrela
que guiou os Reis Magos à Belem.

E junto ao Presépio de cada rancho,
glorifiquemos o nascimento de Deus
da humildade e do amor.

Cantemos, nossos desejos de paz e alegria,
à gente simples do rincão, à família rio-grandense,
aos lares gaúchos e à global fraternidade.

Muita Paz, Saúde e Alegria.


Foto Carlos Paixão Côrtes


Meu Terno de Reis está chegando em sua morada.
No Ciclo Natalino da Tradição Gaúcha,
do dia 25 – nascimento de cristo -
ao dia 06 – chegada dos Reis Magos,
estaremos "Tirando Reses" de casa em casa.


Foto J. C. Paixão Côrtes - Arquivo de Pesquisa


ATÉ O ANO QUE VÊM !

J.C. PAIXÃO CÔRTES



sábado, 25 de dezembro de 2010

Terno de Reis II

Os Reis Magos

Alguns ternos se fazem acompanhar de uma criança, que vai na frente carregando uma varinha, na extremidade da qual vê-se uma estrela simbolizando aquela que guia os Reis Magos e os pastores ao estábulo onde nasceu o Menino Jesus. Em outros rincões, os "ternos" se enriqueceram dos reis — Gaspar, Baltazar (um negrinho) e Melchior — que surgem com suas coroas, suas capas coloridas, etc., lembrando as roupagens que se supõem exibiam os Magos. Em outras regiões, outrossim, como no município de Torres — onde colheram o rilo, o anu etc., as visitas constituem não só na apresentação dos Reses como na execução de danças de fundo dramático como o "baixinho", a "jardineira", o pau de fita, esta já focalizada em nosso livro com Barbosa Lessa intitulado Manual de danças gaúchas.


Fragmento de texto de J. C. Paixão Côrtes, intitulado  "Ternos de Reis"  e  publicado no Jornal do Dia, Porto Alegre, 21 de janeiro de 1960.

Integra o livro “Terno de Reis – Cantiga do Natal Gaúcho” publicado em 1960, com 109 pgs., com fotos preto e branco, no formato 11,5 x 16 cm, volume 23 da Comissão Gaúcha de Folclore, Porto Alegre (RS).

Em 1982, publicou "Natal Gaúcho e os Santos Reses", com 128 pgs., com fotos preto e branco, no formato 15 x 21 cm, com apoio de convênio da FUNARTE, Série Estante Continentina, Edição Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, Porto Alegre (RS).



Texto completo da revista pode ser encontrado no acesso abaixo



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Terno de Reis I

Terno de Reis Tapes 1976 (Gaita-de-dois-canos)
Foto do arquivo pesquisas de Paixão Cortes

É variável o número de participantes de um "terno" pois nem sempre os cantadores são também instrumentistas, e isto obriga a uma maior divisão de funções. No geral, não vai além de oito pessoas: o mestre ou guia e o ajudante de mestre; contra-mestre e ajudante de contra-mestre; o tipe; o tambor; o triângulo e a rabeca.
O mestre, que é o diretor, deve não só ser um bom repentista como também um bom conhecedor da história do nascimento de Jesus, principalmente no que se refere à visita dos Reis Magos. É o mestre (em primeira voz) que inicia o canto acompanhado de seu ajudante (em segunda voz); o verso é então repetido pelo contra-mestre e seu ajudante, também em primeira e segunda voz, respectivamente.
O tiple ou tipe ou ainda tipi, é ordinariamente uma criança que se encarrega de cantar as firmatas características do segundo e do quarto verso de cada estrofe ou somente deste último. Podem existir um ou dois tipes em cada terno. Sobre esta figura assim se expressou o folclorista Mário de Andrade: "A mim me parece que o quipe que 'faz o contracanto' é o mesmíssimo 'tiple', também 'tipe' pela nossa gente folclórica, palavra de terminologia musical espanhola que nomeia o soprano (se trata dum menino) muito generalizada nas cantorias brasileiras para indicar uma voz subalterna.


Fragmento de texto de J. C. Paixão Côrtes, intitulado  "Ternos de Reis"  e  publicado no Jornal do Dia, Porto Alegre, 17 de janeiro de 1960.

Integra o livro “Terno de Reis – Cantiga do Natal Gaúcho” publicado em 1960, com 109 pgs., com fotos preto e branco, no formato 11,5 x 16 cm, volume 23 da Comissão Gaúcha de Folclore, Porto Alegre (RS).




Texto completo da revista pode ser encontrado no acesso abaixo

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Natal Gaúcho e o Terno de Reis

Terno de Reis no Programa Festança na Querência apresentado por Paixão Côrtes e Dimas Costas no auditório da Rádio Gaúcha nos anos 50 e 60.



 Os Três Xirus e Paixão Côrtes cantando reses,
na Ordem dos Músicos do Brasil - RS em 1973.


Paixão Cortes tirando reses durante a Nona Noitada de Terno de Reis do Túnel Verde no Balneário Pinhal (RS), em dezembro de 2007.


Em dezembro de 2008, Paixão Côrtes gravou mensagem para o jornal Zero Hora do Grupo RBS,  falando sobre o Natal gaúcho e o Terno de Reis, uma tradição, no Rio Grande do Sul e no Brasil, realizada nas festas de fim de ano.

 
O folclorista disponibilizou à jornalista Laura Bretano, fotos inéditas do seu arquivo de pesquisas para a elaboração de um audioslide pela equipe do jornal. Veja a apresentação no acesso abaixo.





 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Hino ao Rio Grande com Paixão Côrtes e Borguetinho

No emocionante retorno de Antonio Augusto Fagundes ao lado de Neto Fagundes ao Programa Galpão Crioulo da RBS TV, gravado na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, Paixão Côrtes fez uma participação especial cantando "Hino ao Rio Grande" acompanhado de Borguettinho e Grupo - Daniel Sá, Pedrinho Figueiredo e Vitor Peixoto.

 
 Foto RBS

Aos 83 anos de idade, Paixão Côrtes interpretou a canção de Simão Goldman que foi pela primeira vez gravada em seu disco "Paixão Côrtes", de 1970. Este LP foi remasterizado, com produção de Airton dos Anjos (Patineti), em 2006.


A apresentação do LP foi feita pelo poeta e folclorista Glauco Saraiva. Reproduzimos aqui, alguns parágrafos do seu texto:

"...
Assim, neste LP encontramos a humildade anacrônica de uma primitiva viola, constrastando com os altissonantes arranjos de uma orquestração atual, as vibrações de um sapateio crioulo, com lamentos de um Minuano que leva em seu bojo a tristeza de um amor fenecido: o epicismo avassalador de um Caudilho, absolvendo nos tropéis da carga de lança, o pranto lendário daquele Negrinho do Pastoreio, evocação da escravatura no padroeiro das prendas perdidas. Este é Paixão Côrtes, Pioneiro e Garimpeiro.

Seu LP é a mensagem maior de um Rio Grande do Sul que vibra, se integra ainda mais no cenário musical brasileiro e se projeta ritmado ao dinamismo que caracteriza esta época apressada de transição, mutações e comunicações imediatas e universais, onde o mundo está aldeado pela aproximação quase instantânea dos povos. E o gaúcho é povo e parte importante no concerto universal dos povos.

Paixão é um dos mensageiros autênticos deste povo e de nossa gente. Que sua mensagem encontre inegável ressonância na sensibilidade daqueles que dentro do universal, não perderam e se reencontraram na afirmação de sua raizes fundamentais. 


Escute, Paixão Côrtes. É importante escutá-lo!"

 
Foto Ana Fraga


Para escutar Paixão Côrtes, Renato Borghetti, Walther Morais, Shana Müller e, ainda, Neto Fagundes e Estado das Coisas com o projeto Rock de Galpão, que se apresentaram no Programa Galpão Crioulo da RBS TV  de 19/12/2010, use o acesso abaixo

http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=156194&channel=45

domingo, 19 de dezembro de 2010

Em 1958, o tradicionalismo gaúcho pela primeira vez na Europa

 
O programa Galpão Crioulo da RBS TV contou, em 06/12/09, uma história que é um marco no tradicionalismo.
 
 
Em 1958, pela primeira vez, um grupo de jovens saiu do Rio Grande do Sul para divulgar o folclore gaúcho fora da América Latina.



O Programa reuniu Nico Fagundes, Paixão Côrtes, Vera Pratini de Morais e Taís Virmond, os dançarinos que formavam o Grupo Os Tropeiros e que relembraram os momentos daquela época que se apresentaram com o Conjunto Musical Os Gaudérios. A ilustração musical coube a Raúl Quiroga & Grupo Americanto.


Foto RBS

Para quem quer conhecer esta história, vejam o programa completo da RBS TV no acesso abaixo 





terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Descobrimos o gaúcho social

Entrevista publicada no Extra Classe em setembro de 1999, intitulada "Descobrimos o gaúcho social" onde o jornalista Cesár Fraga apresenta  duas visões diferentes do gaúcho:  João Carlos D'Avila Paixão Côrtes, e Vítor Ramil. Nas entrevistas, cada um deles fala do seu trabalho, de sua trajetória e, principalmente, da busca da identidade deste gaúcho

Abaixo, segue parte da entrevista de Paixão Côrtes.

 EC - Dá para dizer que o senhor e o Barbosa Lessa são os inventores do tradicionalismo?



Não, nós não temos a pretensão disso. Antes de nós já havia registros de estudiosos que, inclusive, serviram como base para a nossa pesquisa. Mas tratava-se de historiadores e escritores que falavam dos feitos do gaúcho mítico, do guerreiro, do centauro dos pampas. Só o que existia era a história farroupilha e a história das revoluções. O que restou foi o registro oral de memória, de que nós saímos à cata. Na verdade, eu diria que nós iniciamos um novo ciclo.
EC - E como vocês faziam esta pesquisa? Qual sistemática utilizavam?
Nós arrolávamos todas as informações que conseguíamos. Depois disso selecionávamos e registrávamos tudo, de forma que as cantigas e danças pudessem ser executadas a partir desse registro. Dos depoimentos eram registradas as partituras e os passos de dança. Assim, não nos contentávamos com o registro literário. Queríamos garantir que a partir daquele material se pudesse cantar e dançar aquelas peças. Buscávamos a fonte, selecionávamos o material, registrávamos e transmitíamos adiante. Só isso.

Paixão e Belizário -  Início da década de 50.
 Arquivo Pessoal Paixão Côrtes.

EC - Dependia-se muito da memória das pessoas. Qual era o procedimento?
Eu e o Lessa recebíamos a informação de que em determinada cidade havia uma pessoa, geralmente já idosa, que sabia cantar e dançar determinado ritmo. Pegávamos as malas e íamos procurar a tal pessoa. Dependíamos exclusivamente da memória delas. Muitas vezes não tínhamos qualquer referência. Então, já perguntávamos logo pelos habitantes mais idosos. A forma do registro era simples. Perguntávamos: o senhor, ou a senhora, poderia cantar e dançar a tal música? Registrávamos tudo por desenhos e partituras. Isso só ficou mais fácil depois que conseguimos uma máquina de gravar emprestada.
EC - Qual era a reação?

Era de espanto (risos). Todos se perguntavam por que jovens como nós viviam procurando por velhos. Outros, muito desconfiados, achavam que estávamos atrás de algum tesouro escondido (mais risos). Era preciso conquistar a confiança das pessoas para conseguir que elas, geralmente entre os 60 e os 80 anos, cantassem e sapateassem em uma época de plena proliferação da cultura norte- americana.



  Pode ser lida na sua totalidade no Extra Classe - SINPRO-RS no acesso abaixo:




domingo, 12 de dezembro de 2010

O Gaúcho - Roteiro Turístico Martin Fierro


 
Texto de Paixão Côrtes e foto de Keke Barcelos , para o Projeto Roteiro Turístico Martin Fierro
de Santana do Livramento, lançado pelo SEBRAE em 2008.
 

Foto Carlos Paixão Côrtes




terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Faca Coqueiro

Foto J C Paixão Côrtes

Faca famosa de outrora

Dentre elas destacamos uma, integrada até mesmo hoje, no folclore gauchesco: "a coqueiro". Não era fabricada na cidade de Pelotas, como muitos pensam, mais sim importada pela firma Scholberg, cuja sede comercial estava em Liége, Bélgica. A referida firma, com filiais em Montevidéu, sob o nome de Broqua & Scholberg e na cidade de Rosário na Argentina, estabeleceu em Pelotas, no ano de 1850, uma outra filial, sob a razão comercial Joucia, Scholberg & Silva. Como sócios faziam parte, além de pelotenses, o francês Leopoldo Joucia, vice-cônsul da França (ou pessoa representativa daquele governo) e que também estava ligado ao comércio de famosos vinhos franceses. Mais tarde outro gaulês incorporou-se à firma: Armand Gadet.

Mas a firma Scholberg pelotense era especializada na importação de armas, metais finos, talheres, cutelaria fina, ferragens, apetrechos de caça, munições, artigos de cristofel, quinquilharias afora peças que no decorrer de seu desenvolvimento comercial foram importantes fornecedores e das quais realizamos precioso levantamento, inclusive fotográfico com slides e cujos estudos daremos divulgação oportunamente.

Esta firma, na grande parte de seus artigos especialmente os de "metal branco garantido", traziam gravados além desses dizeres, a insígnia de um pé de coqueiro ou uma estrela de cinco pontas.

As facas vinham da Bélgica quase prontas recebendo aqui a postura do cabo e bainha. Dentro de vários tipos dos catálogos que Jouela, Scholberg & Silva possuíam, o gaúcho dava preferência à marca do "coqueiro" e desta a "coqueiro deitado", pois era um "ferro branco para qualquer lida"...

Esta marca aparecia junto ao cabo, colocada ao longo da lâmina (no comprimento) paralelo ao gume. Existia também o "coqueiro em pé", em que o mesmo ficava com a base virada para o fio, ou melhor, na largura da lâmina. O curioso é que em frente da própria firma — Andrades Neves, 651 em Pelotas, existia um pé de coqueiro, além de ver-se a título de propaganda, presa a distância da parede da referida casa, uma enorme faca colocada paralelamente a uma não menor espingarda de caça.

Não sei se o coqueiro ali visto já existia na via pública ou foi plantado posteriarmente pelos fundadores da firma. Teria o mesmo motivado o nome da marca? Ou ainda servido de inspiração ou aproveitamento para que o nome do famoso aço "coqueiril", dos quais as facas serem confeccionadas, fosse auditivamente associada ao coqueiro, pelo nosso gaúcho do campo, para maiores efeitos comerciais e publicitários, perfeitamente compreensível na época.

Mas a verdade é que embora a firma tivesse cerrado suas portas em 1936, ainda hoje, na esquina de fronte, onde outrora se transferira — atualmente ocupada pela casa Alegre — encontra-se um pé de coqueiro que, ferindo o plano urbanistíco do centro da Princesa do Sul, ainda é conservado como tradição na cidade, juntamente com outro existente na frente do colégio Gonzaga.

Atualmente quem tem a felicidade de possuir uma faca "coqueiro" a guarda como verdadeira jóia gauchesca.
Talvez por isso o brilhante poeta chucro do pago Jaime Caetano Braum, dedicou-lhe este poema:

Faca coqueiro

Cabo de madeira branca
E a folha de palmo e meio,
Esta faca que palmeio
Sovando uma palha buena
Larga, assim como novena
Nas festanças do Divino
Foi presente do Galdino
Filho de Dona Pequena!

Na prancha meio azulada
Deste regalo campeiro
Está gravado um coqueiro
Assim como um distintivo
Que me faz lembrar, altivo,
O charrua melenudo.
Bombeando longe, sisudo,
O velho solo nativo!

É nesse ferro crioulo
Que o meu fôlego embacia,
A cancha reta bravia
Por onde o fumo se espalha,
Com ele eu ajeito a palha,
Longueio, e, aparo crina,
E a barba, pra ver a china
Quando não tenho navalha!

Quando corto meu churrasco
Deixo branqueando o espeto,
E se na encrenca dos meio
Não sobre garrafa inteiro
Pois este ferro campeiro
De ponta como de prancha
Tem mania de abrir cancha
No costilhar do parceiro!

Por isso é que ao te palmear,
Sovando a palha de milho
Eu sinto, ó rude utensílio
Que muito primeiro que eu
O guasca já te benzeu
Quando num berro de touro,
Junto ao "bendito"de couro
Nalgum rival te embebeu!

E ao te arrancar da bainha
De ponteira reforçada
Evoco a rudez passada,
De teu áspero  trajeto
Quando o xiru analfabeto
Contigo de companheira
Nas andanças da fronteira
Lonqueava o nosso dialeto!

Traste mil vezes relíquia
Por ser presente de amigo:
Hei de levar-te comigo
Sempre ao alcance do braço
E acolherar no teu aço
O presente e o passado
Até que pranche enredado
Por algum "seio de laço"!

E fica certo, Galdino
Ao te agradecer de novo,
Que no singelo retovo
Do meu gauderiar sem norte
Esta faca enquanto corte,
Até os últimos momentos,
Há de estar lonqueando os tento
Da nossa amizade forte!


Fragmento do texto do livro "Gaúchos de Faca na Bota - Uma dança Alemã no Folclore Gaúchesco", publicado em 1966, com 48 pgs., com fotos preto e branco, no formato 17 x 23 cm, Vol. 25 Edição da Comissão Gaúcha de Folclore, Porto Alegre (RS). Publicado em 1966, 2ª Edição, com as mesmas características, na Coleção “Cadernos Verde do Folclore Gaúcho – Regionalismo e Tradição”, Edição Grafipel, Porto Alegre (RS).

 

Texto ampliado do "Gaúcho de Faca na Bota" pode ser encontrado no acesso abaixo

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A identidade do gaúcho no RS


Fragmento da entrevista a Fábio Von Saltiel Filho
Publicada Revista CRECI-RS em Outubro de 2007,
que pode ser lida em sua totalidade no acesso







quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Homenagem Trovadores : registro fotográfico


"Os trovadores trazem na alma esse dom divino que é o improviso"

Paixão Côrtes, homenageado com o título de sócio honorário da Associação dos Trovadores Luiz Muller, de Sapucaia do Sul, na Feira do Livro de Porto Alegre.


 



Fotos cedidas pelo Fotógrafo Rodrigo Rocha




segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Patrono da Feira do Livro Infantil do Hospital São Lucas da PUC-RS

Foto Ana Fraga

Com a ideia de possibilitar aos pequenos pacientes o contato com o mundo da literatura, foi realizado no dia 22 de novembro a 7ª edição da Feira do Livro Infantil do Hospital São Lucas da PUCRS.

Em comum com a Feira do Livro da Capital, a Feira do HSL tem o seu patrono, o folclorista Paixão Côrtes, que participou da abertura. Também estiveram presente o escritor Luiz Coronel e o futuro Secretário de Cultura do RS Luiz Antônio Assis Brasil. Após a cerimônia, houve a distribuição de livros aos pequenos pacientes atendidos no Hospital.

A programação continuou com sessões de autógrafos com os escritores Celso Sisto e Celso Gutfreind, além da Narração Encenada, com os bolsistas do "Projeto Literatura Infantil e Medicina Pediátrica: Uma Aproximação de Integração Humana", da Faculdade de Letras da PUCRS


 
Foto Ana Fraga


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Entrevista "Clube do Aposentado"

(Foto Carlos Paixão Côrtes - 2006)

O objetivo era elevar a cultura gaúcha?
Não existe, no meu modo de ver, cultura superior ou inferior, como muitas vezes se dizia. Cada um tem seu segmento cultural e é preciso que se preserve e se respeite. Acho importante sedimentar a cultura popular rio-grandense, valorizar respeitosamente, como qualquer cultura de outro país. Temos que preservar a identidade da terra. Eu percebi isso quando sai do RS em 1958 e fiquei cinco  meses dançando, cantando e sapateando nos grandes espetáculos na Europa, de bota, bombacha, lenço do pescoço, chapéu e barbicacho. A arte de transmitir, de identificar, é própria das pessoas que têm cultura. Querem estabelecer o paralelo entre o seu mundo e o do outro.

Entrevista para o Jornal "Clube do Aposentado" da Panvel, com o título "Guardião da Cultura Gauchesca" em setembro de 2006.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O Construtor da Memória


       Os CTGs se espalharam pelo mundo, todos nós sabemos. Há CTG nos confins da floresta amazônica, há CTG ponteando os planaltos descampados de Centro-Oeste do Brasil. Há CTG nas proximidades dos lugares mais sofisticados e exclusivos de Beverly Hills, Califórnia. Há CTG inclusive em Tóquio, no lado oposto da Terra. Nossos olhos e ouvidos se acostumaram aos xiripás, aos panhuelos, às guaiacas, aos facões e alpargatas e ao som familiar e inconfundível que vem das vozes e canções galponeiras. Convivemos com todas essas coisas com tranqüila intimidade, como parte indispensável da vida e da paisagem.

      No entanto, todos esses valores, todo esse orgulho nativo, toda essa chama, esse sentimento crioulo que nos irmana e que nos faz sentir mais felizes com nossa essência e com nossa identidade poderia não existir. Todo esse painel multicolorido de vestidos prendados, bombachas, anáguas campeiras e barbicachos estaria perdido nos arquivos semi-mortos e sepultos do esquecimento não fora o voluntarismo investigatório irrefreável de um pequeno e seleto grupo de folcloristas do Rio Grande do Sul. Graças a essa plêiade e a pesquisa minuciosa e única por eles realizada, graças a toda uma lapidação criteriosa e diligente de fatos, eventos, imagens e cores através do tempo, tornou-se possível reconstruir nosso comportamento como grupo humano, tornou-se possível visualizar nossso eu coletivo, nosso modo de ser profundo: o ser gaúcho.

        Entre esses notáveis construtores da nossa memória popular, há um nome ímpar, que se evidencia e se identifica logo ao ser pronunciado: Paixão Côrtes. A ele devemos muito, talvez nem saibamos quanto. Esta publicação é, na verdade, uma das formas que encontramos de reconhecer seu intenso labor de pesquisa e de dar, às novas gerações, a oportunidade de conhecer seus estudos folclóricos admiráveis. Como justa e necessária homenagem a um grande legado.

       Eis a origem de tudo. É Paixão Côrtes. E mais não é preciso dizer.
 
José Fogaça
Prefeito Municipal de Porto Alegre/RS/Brasil em 2006

(Texto do Convite para o lançamento dos CDs ”Paixão Cortes” e “Do Folk aos Novos Rumos”, em abril de 2006) 



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Paixão Côrtes: ao final da jornada, uma guaiaca cheia de histórias

Entre contadores de histórias e leitores, desponta Paixão Côrtes, personagem inesquecível da Feira

Ele diz não ser escritor, mas escrevinhador. Sem dúvida, é um contador de histórias. Escrevinhando ou falando, Paixão Côrtes terá um punhado de causos para passar adiante depois desta 56ª Feira do Livro que o saudou como patrono. Em mais de uma ocasião na última quinzena, o folclorista foi tomado pela recepção que o público armava a sua passagem: salvas de palmas, sem ensaio, sem motivo.

Ao ser convidado para uma entrevista no estande de uma emissora de rádio e TV, improvisou um dueto com Luiz Carlos Borges. Estava ali para falar, não para cantar, mas não refugou a oferta:
— Ele abriu a gaita e cantei o Hino ao Rio Grande.

Não poderia imaginar o que viria a seguir.
— As pessoas choravam, beijavam minha mão, puxavam meu lenço. Acho até que quebraram umas coisas — recorda.

Lembranças de familiares, de coisas passadas — ele arrisca algumas interpretações para os ânimos tão exaltados.
— Deve ser por emoção, eu não estou pagando nada — diverte-se.

Mas não é preciso dedilhar um instrumento ou impostar a voz para provocar lágrimas. Uma senhora chorava ontem à tarde, sem trilha sonora, emocionada na presença de João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, gaúcho de Santana do Livramento. Circulando pela praça, ele não dá meia dúzia de passos sem ser interrompido para uma prosa rápida. Amante da cultura e das tradições do Estado, não tem hora quando se põe a falar sobre o tema que norteou sua vida.

Apesar dos 83 anos, abraçou com dedicação todos os compromissos do patronato e se esforçou para bem receber os visitantes. Deixou o chimarrão em casa, o hábito não casa com a algaravia do centro da Capital:

— O mate é um estado de espírito, não é uma bebida qualquer como Coca-cola. Tomo de manhã cedo, refletindo — esclarece.

Na segunda-feira, única ocasião em que apareceu pilchado, pediu um refresco — para não forçar demais um braço meio dolorido, a filha o ajudou a distribuir dedicatórias.

— Tenho 50 anos a menos e estou cansado — diz o relações públicas Ricardo Rocha, designado pela Câmara Rio-grandense do Livro para acompanhar o patrono.

Paixão circula tirando som da matraca, objeto de madeira usado no Interior para anunciar festas
— Que invencionice é essa? — questionam citadinos.
— Invencionice nenhuma! — replica o patrono, emendando uma empolgada explicação.

Os adultos apresentam às crianças o homem que serviu de modelo ao artista plástico Antônio Caringi para construir um dos símbolos mais marcantes de Porto Alegre:
— Olha, filho, aquele ali é o Laçador.

O patrono está faceiro: trouxe o tradicionalismo para a praça. Perdeu as contas de quantas vezes fez pose para fotos – mais de mil, estima. Mas com uma ressalva:
— Não sou de palco, não sou de microfone, não sou de holofote. Sou de campo.

Reportagem de Larissa Roso, com foto de Diego Vara,  publicada em Zero Hora em 13/11/2010





Ilustração de O Globo (2000) publicada por Luis Peazê , escritor e jornalista,

AUDIOSLIDE: Paixão Côrtes em imagens

Quando da escolha de Paixão Côrtes para Patrono da 56 Feira do Livro de Porto Alegre, ele concedeu uma entrevista falando da matraca.

O ClicRBS utilizou o audio da entrevista e fotos para fazer um Audioslide que poderá ser assistido no acesso abaixo.






Encerramento da 56 Feira do Livro de Porto Alegre, ao som do sino, da matraca e da Valsa da Despedida (15/11/10)

Nos dias de Feira, não foi estranho ver o patrono assediado pelo público com dúvidas sobre o chimarrão e as tradições gaúchas. Mas, no encerramento, a tradicional caminhada entre as barracas foi finalizada ao som da Valsa de Despedida. Rosas foram distribuídas para quem estava no local.

Fragmento de texto de Luisa Piffero publicado em 16/11/2010no jornal Zero Hora, sob o título "Último dia da 56ª Feira do Livro ganhou ares tradicionalistas"












Fotos Carlos Paixão Côrtes